segunda-feira, 28 de abril de 2014

DESDE QUE CHEGASTE AO MUNDO DO SER...



DESDE QUE CHEGASTE AO MUNDO DO SER...

Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?

Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!

Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.

Rumi

domingo, 20 de abril de 2014

ILUSTRE E FERMOSÍSSIMA*****************




ILUSTRE E FERMOSÍSSIMA***************** 

Luis de Góngora (1561-1627)


Ilustre e fermosíssima Maria,
enquanto deixam ver-se a todo instante
nas tuas faces a Aurora purpurante,
nos olhos Febo, e em teu semblante o dia,

e enquanto com gentil descortesia
o vento move a fibra tão volante
que nas veias da Arábia é abundante,
e que na areia o rico Tejo cria;

antes que logo qual Febo eclipsado,
 o alvo dia se torne noite escura,
fuja a Aurora do efêmero nublado;

antes que o que é hoje láureo tesouro
vença à alvíssima neve a sua alvura,
goza, goza essa cor, e luz, e esse ouro!

.
Trad. pela Renata

sábado, 12 de abril de 2014

DEFININDO O AMOR


DEFININDO O AMOR


É gelo abrasador, fogo gelado,
é ferida que dói e não se sente,
é um sonhado bem, um mal presente,
é um breve descanso mui cansado.

É um descuido a dar-nos um cuidado,
um covarde com nome de valente,
um solitário andar por entre a gente,
um amar tão-somente ser amado.

É uma liberdade encarcerada,
que chega até a suma excitação,
é moléstia que cresce se curada.

É o menino Amor, a perdição:
vê, não será amigo já de nada,
pois é contrário ao próprio coração

Francisco de Quevedo (1580-1645)
Tradução de Renata Cordeiro

segunda-feira, 7 de abril de 2014

ALQUIMIA







ALQUIMA

Febre infinita na cama
Lençóis repletos de carícias
Que nunca cessam
Colares de beijos se estiolam aos milhares
Doçura selvagem dos corpos em furor
Teus lábios na minha garganta
Tua espada acerada desliza na senda
As queimaduras da forja
Agonizo sob teus dedos
Meu corpo é tua presa
Tu te fundes em mim 
Aperta-me nos braços
Em oceano imenso de paixão
Ao fogo desatino
Morro com tuas palavras
Vôo bem alto
Tu danças no meu seio
Tu te tornas deus elétrico de bronze
E renasces nos meus cornos
® Renata Cordeiro

domingo, 6 de abril de 2014

IMENSO AMOR O MEU...


IMENSO AMOR O MEU...

Imenso amor o meu, de tal jaez
Que minha alma, liberta da couraça
Do egoísmo, da mágoa, da aridez,
Vive no espaço que esse amor lhe traça.

Dia após dia, mês após mês,
Sigo teus passos, preso à tua graça.
És a resposta a todos os porquês
E a afirmação de que nem tudo passa.

Quando disseste “vem comigo”, eu vim
Pois eras a esperança, eras meu sonho
Mais divino, mais puro, mais pudico.

Como a lei natural impõe um fim,
Morra eu, que de matéria me componho,
Mas nunca o amor que te dedico.

(Desconheço o autor)